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Alice, a Menina Sonhadora

alice no país das maravilhas

 Alice Lidell

Em um dia quente de 1862, Lewis Carroll saía em um passeio de barco para um piquenique com seu amigo de Oxford, Henry Liddell e suas três filhas. A imaginativa Alice Liddell, a "menina sonhadora", como o autor a chamava, pediu para que ele contasse uma história. Neste dia, começava a inspiração de Lewis Carroll para criação do livro “Alice no País das Maravilhas”.

Criada na era Vitoriana, uma época de forte repressão e moralidade, Alice era algo único entre os livros infantis da época. Ela é a primeira protagonista a entrar em um mundo diferente do nosso, no interior da Terra. Sua história continua sendo singular, enquanto Bilbo Bolseiro ou Harry Potter tem suas jornadas heroicas e testes de coragem, Alice encara seus problemas sozinha, em um mundo onde nada faz sentido e não se pode confiar em ninguém. A linguagem se transforma em piada, o corpo de Alice diminui e aumenta como uma paródia da puberdade, as flores brancas são pintadas de vermelho, os animais falam e quase todo mundo está irritado e ofendido, tratando-a de forma bruta e arrogante.

Alice no País das Maravilhas

Alice Lidell brincando com suas irmãs 

Mesmo assim, Alice nunca perde sua curiosidade, sua educação, seu conhecimento da verdade e sua sanidade. Não importa o que aconteça, ela continua sendo a mesma menina esperta, corajosa e sonhadora, que nunca tem medo de responder. A história de Alice é sobre uma forma diferente de heroísmo, mostrando uma vitória da inteligência e não da força. Foi a primeira personagem na literatura a ter uma voz interior, a conversar consigo mesma, da forma como todas as crianças e pessoas fazem. 

É uma personagem que reflete a imaginação, sendo vista de várias formas. Os aspectos psicodélicos, como o cogumelo literalmente mágico, à busca pelo autoconhecimento, a tornaram um ícone da contracultura dos anos 60. Também é referência ao espírito da nascente ficção científica de seu tempo, com a passagem para um mundo mágico subterrâneo, apenas dois anos antes da publicação de Jules Verne “Viagem ao Centro da Terra”. E assim como os espíritos que Dante encontra na Divina Comédia, os personagens de Alice estão presos em ciclos de comportamento e punição eternos. 

Nem sempre o mundo dos sonhos é um lugar divertido e "Alice No País das Maravilhas" muitas vezes parece um sonho prestes a desmoronar e se transformar em um pesadelo. Os animais que Alice encontra são irritadiços, diferente dos animais fofinhos de muita literatura infantil. Ela passa pelo risco de ser executada, 'apagada como uma vela' e por inúmeros perigos.

Alice no País das Maravilhas Primeira Edição

Primeira Edição de Alice no País das Maravilhas

Alice logo encontrou expressão no teatro, e desde o começo do cinema estava mostrando o que era possível nessa nova arte. As famosas artes do Gato de Cheshire aparecendo e desaparecendo, impressas em páginas seguidas, criavam a impressão de movimento quando viradas, e pode-se dizer que foram uma das primeiras histórias em quadrinhos. Quando Walt Disney chegou em Los Angeles em 1923, carregava uma mala velha e suja que continha um terno igualmente velho e sujo, 40 dólares, materiais de desenho e uma animação de 12 minutos e meio de “Alice's Wonderland”. 

Ilustração Original de Alice no País das Maravilhas

“Alice no País das Maravilhas” encantou e inspirou gerações, foi analisada e psicoanalisada, virou peças de teatro, filmes, videogames e desenhos animados. O livro tornou-se um multiverso cultural, acomodando e refletindo mudanças sociais e movimentos culturais diversos.

O País das Maravilhas pode existir apenas nos sonhos de Alice, mas uma vez que o visitamos em sua companhia, ele também acaba existindo dentro de nós. É um livro que cresce junto com a gente e quando a Lagarta pergunta à Alice "Quem é você?"- é tão difícil para nós respondermos quanto foi para Alice.

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